Jejum e Oração

Por: Antonio Gilberto

Quais são os propósitos do jejum? Quais são os benefícios do jejum?

Se examinarmos a Bíblia, quanto à história de Israel e a Igreja, veremos que o jejum sempre fez parte da vida normal do povo de Deus, tanto no Antigo como no Novo Testamento.
Jejum é restrição dos apetites da alma e do corpo, para uma busca mais intensa da face de Deus. Essa restrição inclui a abstenção de alimentos sólidos e líquidos, e quaisquer outras formas de apetites legítimos. Jejuar é por Deus em primeiro lugar, em se tratando dos nossos apetites.
O jejum é uma demonstração de auto-disciplina voluntária e domínio do nosso espírito sobre a matéria e seus apetites naturais (SaImo 69.10). Aqui se fala do jejum da alma, e não apenas do corpo. A passagem está melhor traduzida na versão Revista e Atualizada de Almeida. Em 1Coríntios 9.27, lemos sobre a subjugação do corpo pelo nosso espírito. O corpo pode servir muito bem como nosso servo, mas nunca como nosso patrão. Quem costuma jejuar tem facilidade de ser moderado em tudo.
O jejum bíblico é uma espécie de “arma secreta” do crente, como recurso aliado à oração. O jejum é uma maneira de buscarmos a Deus e recebermos recompensa disso.
Hebreus 11.6 afirma que há recompensa em buscar o Senhor. Jesus ensinou que o jejum, como busca da face de Deus, terá uma recompensa (Mateus 6.17-18). Em Isaías 58.6-12 temos uma série de promessas divinas para os que jejuam segundo o plano de Deus. Entre essas bênçãos prometidas estão luz, saúde, justiça e glória (verso 8); oração respondida (verso 9); direção divina, abundância, fortaleza, fontes espirituais perenes (verso 11); e restauração de bênçãos perdidas. Além disso, aquele que jejua torna-se uma bênção para os outros (verso 12).

O JEJUM E A ORAÇÃO
O jejum é uma forma de mostrar a Deus a urgência da nossa necessidade declarada na oração. Ele está sempre vinculado à oração (Neemias 1.4; Daniel 9.3 e Lucas 2.37). Que riqueza espiritual temos aqui! Mateus 17.19-21 diz que temos o trio da vitória: fé + oração + jejum.
O jejum demonstra a nossa confiança nas promessas de Deus. Uma boa coisa a fazer quando jejuamos é escrever a lista dos pedidos que estamos fazendo a Deus. Essa lista deve ser datada. As respostas divinas deverão ser conferidas na lista.

ASPECTOS FÍSICOS DO JEJUM
Muitos crentes têm o corpo humano como sendo um mal necessário, com o qual eles têm que conviver, e quando ficarem livres do corpo serão mais abençoados. Mas a Bíblia mostra que isso é um falso conceito (1Coríntios 6.13-19; 12.27).
O jejum é uma das maneiras de ajudarmos a manter o nosso corpo forte, limpo (internamente) e saudável, porque ele provê descanso fisiológico, especialmente ao sistema digestivo.
Nem todos podem jejuar. Os portadores de diabetes são um exemplo. Usuários de certos medicamentos devem consultar seus médicos para saber se podem jejuar ou não. Por outro lado, não esqueçamos que o jejum pode ter aspectos sobrenaturais, como os casos de Moisés e Elias, que jejuaram 40 dias e 40 noites. Moisés fez assim duas vezes (Deuteronômio 9.9-18; 10.10). Há crentes que não podem jejuar. Os outros que podem devem jejuar por eles.

O JEJUM COMO PRECEITO BÍBLICO
Sob a Antiga Aliança, todo povo de Deus deveria jejuar, pelo menos uma vez no ano: no Dia da Expiação (Levítico 16.29-31; 23.27-32). Temos aí o jejum como preceito da Lei. O jejum, no final da Antiga Aliança, era observado quatro vezes por ano (Zacarias 8.19). Eles assinalavam calamidades na história judaica.
Nos dias de Jesus, os judeus jejuavam duas vezes por semana (segundas e quintas-feiras) por mera formalidade farisaica, perfazendo um total de 104 jejuns por ano (Lucas 18.12). O caso deles era quantidade, não qualidade. Primeiro, um dia por ano; depois, quatro vezes por ano; por último, 104 vezes por ano, à base legislativa. Isso é, cresceram na Lei e diminuíram na Graça, conforme se vê em Mateus 6.19.
Jesus jejuou e ensinou sobre o jejum. Seus discípulos não jejuavam porque Ele estava com eles, mas o Mestre declarou-lhes, que depois da sua ascensão, eles jejuariam (Mateus 9.15). Jesus jejuou no início de seu ministério.
A Igreja primitiva jejuou (Atos 13.2-3; 14.23). A Igreja dos primeiros séculos jejuou. Tanto a história da Igreja, como a tradição, mostram que a Igreja dos primeiros séculos observava regularmente o jejum.
A prática do jejum é da vontade de Deus. O crente não necessita de nenhuma revelação especial de Deus, ou motivo de força maior para poder jejuar, porque a Bíblia já indica que essa é a vontade de Deus.

PROPÓSITOS DO JEJUM
1) O crente humilhar-se diante de Deus (SaImo 35.13). Não é trabalho de Deus fazer o crente humilde. É o próprio crente, que mediante a graça divina, humilha-se diante de Deus. Ele nos diz: “Humilhai-vos” (Tiago 4.10). Quando o crente não se humilha, então Deus tem que humilhá-lo. São essas as duas maneiras de um crente ser humilde. Qual delas vamos escolher? Humilhar-nos ou esperar que Deus nos humilhe? (Ezequiel 21.26 e Daniel 4.37). O jejum é uma forma do crente humilhar-se diante de Deus (SaImo 35.13). Assim fazendo, Deus o exaltará, conforme está escrito.
2) Buscar a Deus para chegar mais perto d’Ele. Esse deve ser outro propósito do jejum (2Crônicas 20.3 e Atos 10.30).
3).Compreensão da Palavra de Deus (Daniel 9.3,22-23). Os crentes dão testemunho, que quando jejuam seguidamente, passam a ter mais compreensão e maior aprofundamento na Palavra de Deus e suas doutrinas.
4) Conhecer a vontade de Deus e sua direção para nossa vida (Esdras 8.21-23). Esdras e sua comitiva precisavam de proteção e direção divina, na caminhada que estavam para iniciar. Nós todos iniciamos novas jornadas na vida de vez em quando.
5) Buscar cura divina (Isaías 58.8). Pode não ser o próprio doente que jejue. Outros podem jejuar por ele. A cura divina não é somente a do corpo, mas também a do coração amargurado, abatido, desconsolado, desanimado. Isso é uma doença espiritual. E que doença! (Lucas 4.18).
6) Obter vitória contra os poderes do mal nas tentações e outros conflitos espirituais (Mateus 17.21). O nosso Salvador enfrentou o Diabo e o venceu quando jejuava (Mateus 4.1-11).
7) Buscar intervenção divina quando em crise. Problemas sem solução pelos meios comuns (2Crônicas 20). O rei e todo o povo jejuou e Deus desfez o exército adversário.
8) Interceder pelos outros. Davi jejuou até por seus inimigos, quando doentes (SaImo 35.13) e também por seu filho (2Samuel 12.21). Moisés jejuou intercedendo por seu povo (Deuteronômio 4.16). O jejum também cabe aqui, em um caso de perigo iminente. Daniel jejuou por sua nação (Daniel 9.2-3). Isso é também preciso hoje. Neemias jejuou pelo povo de Israel (Neemias 1.4)
Há quem jejue somente quando em crise. Não deixe a crise chegar para poder jejuar. Antecipe-se a ela pelo discernimento espiritual. O Espírito de Deus quer nos prevenir quanto à aproximação de temporais. Vejamos, a seguir, alguns exemplos de ocasiões para jejuar.
  • Quando sob correção divina (2Samuel 12.16-23).
  • Quando sob necessidade específica e crítica. Esdras jejuou pedindo direção e segurança para a longa jornada de Judá (Esdras 8.21-23).
  • Quando em perigo, aflição, emergência (2Crônicas 20.3,9,15).
  • Quando sob profundo arrependimento, penitência e pesar por rebeldia contra Deus (ISamuel 7.5-6). Exemplos: Acabe, o rei ímpio (lReis 21.27-29); o rei e o povo de Nínive (Jonas 3.5-8); o povo de Jerusalém na sua rebeldia (Jeremias 36.6-9); Esdras e Neemias, pela cura espiritual da sua nação (Esdras 10.1-6 e Neemias 9.1-2); o povo de Israel, após severa praga e invasão estrangeira (Joel 1.1-14; 2.12-15). Essa última referência sobre o jejum está no mesmo capítulo da promessa pentecostal. Compare Joel 2.12-15 com 2.28-29 e perceberá que na origem da promessa pentecostal está também o jejum!
  • Em dificuldade, quando nada dá certo, está na hora de jejuar e buscar o Senhor (SaImo 109.24). Ele está nos dizendo que nessas situações devemos depender Dele.
  • Na escolha, consagração e envio de obreiros para o campo de trabalho (Atos 13.2-3). Em Atos 14.23, em situação idêntica, várias igrejas jejuaram. No trabalho do Mestre, enfrentando lutas, provações e espinhos (2Coríntios 6.5; 11.27).
  • Até Jesus voltar (Marcos 2.20).

A PRÁTICA DO JEJUM E SEUS RESULTADOS
Devemos jejuar em atitude de fé, na atitude de que é da vontade de Deus jejuarmos, e de que há recompensa divina em jejuar, quando isso é feito segundo a Palavra de Deus (Mateus 6.17-18).
O verdadeiro jejum é aquele que envolve não só a abstinência de alimentos, mas também a abstinência da iniquidade e dos prazeres temporais e ilícitos (Isaías 58.6-9 e Daniel 10.3). Se o estômago é abstinente, mas o coração é impenitente e carnal, de nada vale jejuar assim. Jejuar por rotina, por costume, por lei, por inapetência, por ostentação religiosa, fazendo todo mundo saber que estamos jejuando, de nada vale.
O jejum pode ser individual, mas também coletivo e nacional, como vemos em Juízes 20.26 e Jonas 3.5-8. Durante o jejum, é de toda importância a Palavra de Deus, a oração e o louvor. A Palavra de Deus prepara os nossos corações, pondo-nos em contato com Deus. Quando lemos a Palavra de Deus, Ele fala conosco; quando oramos, falamos com Deus. A oração é geralmente mais eficaz quando se segue à meditação na Palavra de Deus.
Fique alerta quanto a ataques diabólicos durante o jejum. Jesus foi tentado quando jejuava. Quando resolver buscar a Deus à base do jejum e oração, fique certo de que o Diabo reagirá de uma maneira ou de outra. A tentação diabólica pode ser uma forma de medo, receio, dúvida, aparente perda de gozo, paz e felicidade que todo crente fiel sempre tem. Não ceda ante tais emoções e sentimentos: um crente não deve permitir que sentimentos dirijam seus passos. Fique firme, tendo sempre como certos os seguintes fatos bíblicos: 1) Deus está ao seu lado; 2) Deus o ama; 3)Deus é galardoador daqueles que o buscam; 4) mesmo que você não sinta essas coisas no momento, elas são verdadeiras em sua vida porque a Palavra de Deus o diz.
Os discípulos de João jejuaram (Lucas 5.33). João deve ter sido homem de jejum, como o foi de oração (Lucas 11.1). Jesus, o nosso Salvador, jejuou (Mateus 4.2). Ele, para vencer o Diabo, não precisava jejuar, assim como para ensinar sobre o batismo não precisava deixar-se batizar, mas em tudo isso Ele quis dar-nos o exemplo. Por outro lado, aquele período de jejum precedeu o início do seu ministério.
Moisés, o líder do seu povo, jejuou 40 dias duas vezes (Deuteronômio 9.9,18; 10.10; Êxodo 34.28). O jejum de Moisés, sem pão nem água, deve ter sido um fato sobrenatural, uma vez que o corpo humano não suporta tanto tempo sem alimento algum, muito menos sem água. O caso de Moisés nos ensina que os dirigentes de igrejas e congregações devem jejuar. Josué, o auxiliar de Moisés, jejuou (Êxodo 24.13-18). Isso nos ensina que obreiros auxiliares devem jejuar também.
Elias, o profeta de Deus, jejuou 40 dias (lReis 19.8). Isso nos ensina, entre outras coisas, que os profetas do Senhor devem jejuar com humildade, piedade e contrição.
Davi, o rei, jejuou (SaImo 35.13; 69.9-11 e 109.24). Isso nos ensina que aqueles que estão em eminência, nos mais altos cargos, devem jejuar. Muitos querem ser “reis”, mas não querem nem pensar em jejuar diante do Senhor.
Esdras, escriba e sacerdote, jejuou (Esdras 8.21-23). Neemias, o piedoso governador, jejuou (Neemias 1.4). Aqueles que exercem cargos públicos, mesmo os mais altos, devem jejuar. O jejum de Neemias foi intercessório (Neemias 1.4-11).
Daniel, o profeta e estadista, também jejuou (Daniel 9.3; 10.2-3). Paulo, pregador, apóstolo, mestre, missionário e teólogo, jejuou (Atos 9.9). Obreiros chamados por Deus para esses trabalhos deverão jejuar.

OBSERVAÇÕES FINAIS SOBRE O JEJUM
A importância do jejum vê-se no fato de que o Filho de Deus jejuou, e grandes homens de Deus também jejuaram, através dos tempos. Não é correto chamar ao jejum “consagração”. Durante o jejum deve haver, sim, consagração do crente, mas o jejum em si não é consagração.
A duração do jejum e sua frequência depende de cada pessoa que jejua. Essas coisas não devem ser obrigatórias, do contrário o jejum pode tornar-se mera formalidade (Zacarias 7.5).
Deus não ordena expressamente a observância do jejum no Novo Testamento, porque isso deve ser primeiramente um ato voluntário de busca ao Senhor. Os discípulos de João jejuaram, mas os de Jesus, não. Isso enquanto Ele estava com eles. Quando Jesus voltou para o Céu, eles jejuaram, como já vimos citando passagens do Novo Testamento. Isso implica que eles teriam adversidades (Lucas 5.34-35).
O jejum envolve a total abstinência de qualquer alimento. O ensino afirmando que durante o jejum se pode comer peixe, e tomar suco de frutas, e água açucarada, não tem cabimento.
O jejum é o elemento inicial do avivamento espiritual (Neemias 9.1-4).
Pr. Antonio Gilberto

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