ARTIGO TEOLÓGICO: SUBSÍDIO ATOS DOS APÓSTOLOS




SUBSÍDIO TEOLÓGICO ATOS
ORIENTAÇÕES PARA O USUÁRIO DA SÉRIE DE COMENTÁRIOS ÍNDICE DE ABREVIATURAS PREFÁCIO

QUESTÕES INTRODUTÓRIAS COMENTÁRIO O TEMA DE ATOS DOS APÓSTOLOS: O ENVIO DOS DISCÍPULOS ATÉ OS CONFINS DA TERRA A  
1.      ASCENSÃO DE JESUS - Atos 1.9-12
2.      A ESPERA EM ORAÇÃO PELA EFUSÃO DO ESPÍRITO - Atos 1.13-14
3.      A ELEIÇÃO PARA A VAGA DO 12º APÓSTOLO - Atos 1.15-26
4.      A VINDA DO ESPÍRITO NO DIA DE PENTECOSTES - Atos 2.1-13
5.      O “SERMÃO PENTECOSTAL” DE PEDRO - Atos 2.14-36
6.      O CHAMADO À CONVERSÃO E SALVAÇÃO - Atos 2.37-41
7.      A VIDA DA PRIMEIRA IGREJA - Atos 2.42-47
8.      A CURA DO COXO - Atos 3.1-10
9.      NOVA PREGAÇÃO NO TEMPLO - Atos 3.11-26
10.  O PRIMEIRO INQUÉRITO DIANTE DO SINÉDRIO - Atos 4.1-22
11.  O RELATO PERANTE A IGREJA E A ORAÇÃO DA IGREJA - Atos 4.23-31
12.  UM SEGUNDO RELATO SOBRE A VIDA DA PRIMEIRA IGREJA - Atos 4.32-37
13.  ANANIAS E SAFIRA - Atos 5.1-11
14.  UM TERCEIRO RELATO SOBRE A VIDA DA PRIMEIRA IGREJA - Atos 5.12-16
15.  O SEGUNDO INTERROGATÓRIO PERANTE O SINÉDRIO - Atos 5.17-42
16.  A ESCOLHA DOS SETE - Atos 6.1-7
17.  ESTÊVÃO E O COMEÇO DO PROCESSO CONTRA ELE - Atos 6.8-15
18.  O DISCURSO DE ESTÊVÃO - Atos 7.1-53
19.  O FIM DE ESTÊVÃO E A PERSEGUIÇÃO DA IGREJA POR SAULO - Atos 7.54-8.3
20.  O EVANGELHO CHEGA A SAMARIA - Atos 8.4-25
21.  UM ETÍOPE ACEITA A FÉ - Atos 8.26-40
22.  A CONVERSÃO E VOCAÇÃO DE SAULO - Atos 9.1-19a
23.  A PRIMEIRA ATUAÇÃO DE SAULO EM DAMASCO E JERUSALÉM E SEU TÉRMINO - Atos 9.19b-30
24.  A ATUAÇÃO DE PEDRO EM LIDA E JOPE E A RESSURREIÇÃO DE TABITA - Atos 9.31-43
25.  CONVERSÃO E BATISMO DOS PRIMEIROS GENTIOS NA CASA DE CORNÉLIO - Atos 10.1-48
26.   PEDRO JUSTIFICA A ADMISSÃO DE GENTIOS NA COMUNIDADE DO MESSIAS JESUS - Atos 11.1-18
27.  O COMEÇO DE UMA IGREJA GENTIA CRISTÃ NA ANTIOQUIA COSMOPOLITA - Atos 11.19-26
28.  A PRIMEIRA COLETA GENTIA CRISTÃ PARA JERUSALÉM - Atos 11.27-30
29.  A MILAGROSA LIBERTAÇÃO DE PEDRO DA PRISÃO - Atos 12.1-19
30.  A MORTE DE HERODES - Atos 12.20-25

A PRIMEIRA VIAGEM MISSIONÁRIA
O ENVIO DE BARNABÉ E PAULO 1 – O TRABALHO EM CHIPRE - Atos 13.1-12
2 – O COMEÇO DA MISSÃO NO PLANALTO DA ÁSIA MENOR O EVANGELHO NA ANTIOQUIA DA PISÍDIA - Atos 13.13-52
3 – Paulo e Barnabé em Icônio - Atos 14.1-7
4 – Evangelização em Listra - Atos 14.8-20
5 – Retorno pelas igrejas fundadas - Instalação de presbíteros - Volta para Antioquia com o relato diante da igreja - Atos 14.21-28
O CONCÍLIO DOS APÓSTOLOS - Atos 15.1-35
EXCURSO: A relação entre At 15 e Gl 2.1-10

A SEGUNDA VIAGEM MISSIONÁRIA
1 – A NOVA PARTIDA - Atos 15.36-41
2 – NAS ANTIGAS IGREJAS. A VOCAÇÃO DE TIMÓTEO - Atos 16.1-5
3 – A ENIGMÁTICA CONDUÇÃO ATÉ TRÔADE - Atos 16.6-10
4 – O COMEÇO EM FILIPOS - Atos 16.11-15
5 – O CARCEREIRO DE FILIPOS - Atos 16.16-40
6 – A EVANGELIZAÇÃO EM TESSALÔNICA E BERÉIA - Atos 17.1-15
7 – PAULO EM ATENAS - Atos 17.16-34
8 – PAULO EM CORINTO - Atos 18.1-17

O FIM DA SEGUNDA E O COMEÇO DA TERCEIRA VIAGEM MISSIONÁRIA - Atos 18.18-23
A TERCEIRA VIAGEM MISSIONÁRIA
1 – APOLO EM ÉFESO E CORINTO - Atos 18.24-28
2 – PAULO E OS DISCÍPULOS DE JOÃO EM ÉFESO - Atos 19.1-7
3 – A ATUAÇÃO DE PAULO EM ÉFESO - Atos 19.8-12
4 – A VITÓRIA SOBRE A FEITIÇARIA EM ÉFESO - Atos 19.13-20
5 – PLANOS DE VIAGEM DO APÓSTOLO - Atos 19.21-22
6 – TUMULTO CONTRA O EVANGELHO EM ÉFESO - Atos 19.23-40
O FINAL DA TERCEIRA VIAGEM MISSIONÁRIA E O COMEÇO DA VIAGEM A JERUSALÉM - Atos 20.1-12

EM VIAGEM PARA JERUSALÉM
1 - O ITINERÁRIO - Atos 20.13-16
2 – A DESPEDIDA DOS PRESBÍTEROS EM MILETO - Atos 20.17-38
PARTINDO DE MILETO: PAULO EM TIRO, PTOLEMAIDA E CESARÉIA - Atos 21.1-14

PAULO EM JERUSALÉM
1 – UMA TENTATIVA DIPLOMÁTICA DE SALVAÇÃO - Atos 21.15-26
2 – TUMULTO NO TEMPLO E APRISIONAMENTO PELOS ROMANOS - Atos 21.27-40
3 – O ÚLTIMO DISCURSO A SEU POVO - Atos 22.1-21
4 – PAULO PROTEGIDO NA PRISÃO DOS ROMANOS - Atos 22.22-29
5 – NEGOCIAÇÃO PERANTE O SINÉDRIO - Atos 22.30-23.11

OUTRO ATENTADO CONTRA PAULO
TRANSFERÊNCIA DO APÓSTOLO PARA CESARÉIA - Atos 23.12-35

PAULO EM CESARÉIA
1 – A AUDIÊNCIA PERANTE O GOVERNADOR FÉLIX - Atos 24.1-23
2 – O DIÁLOGO COM FÉLIX - Atos 24.24-27
3 – A TRAMITAÇÃO PERANTE O GOVERNADOR FESTO E A APELAÇÃO AO IMPERADOR Atos 25.1-12
4 – DIÁLOGO DO GOVERNADOR COM AGRIPA SOBRE PAULO. PAULO É APRESENTADO AO CASAL REAL. - Atos 25.13-27
5 – O DISCURSO DE PAULO PERANTE FESTO E AGRIPA- Atos 26.1-32

A VIAGEM POR MAR ATÉ ROMA - Atos 27.1-44
NA ILHA DE MALTA - Atos 28.1-10
A CHEGADA NA ITÁLIA E EM ROMA - Atos 28.11-16
PAULO EM ROMA
DEBATE COM OS LÍDERES DO JUDAÍSMO. O TESTEMUNHO LIVRE E DESIMPEDIDO DE PAULO. - Atos 28.17-31
PREFÁCIO
Quando nos ocupamos de Atos dos Apóstolos a partir dos comentários às cartas paulinas, especialmente a carta aos Romanos, parece ser algo bastante simples comentar essa obra. Nesse caso, estamos lidando com “história”, com relatos sobre acontecimentos que sucederam de um ou outro modo. A rigor não há nada a “explicar”. Parece que basta fazer algumas observações de ordem lingüística e histórica para que haja compreensão. Contudo, nessa “simplicidade” reside ao mesmo tempo a dificuldade. O leitor não deve apenas tomar conhecimento: “Foi assim que aconteceu no passado!” Terá razão em demandar uma orientação para relacionar o que aconteceu naquele tempo com a vida da igreja de Jesus hoje, passando, somente assim, a de fato compreender a história em seu íntimo. Porém, onde está então o limite entre a explicação válida do texto a partir da atualidade e “pregações acerca de Atos dos Apóstolos”, que não fazem parte de um comentário, mas somente serão subseqüentes a ele? Nessa questão, não será fácil decidir se o comentarista está se excedendo ou se restringindo demais. Não há como evitar uma certa desigualdade na abordagem dos diversos trechos. Vários leitores sentirão falta de uma explicação mais exaustiva justamente onde o autor pensava poder contentar-se com referências sucintas, e preferiria uma brevidade maior onde o autor entrou em maiores detalhes.
Comentar Atos dos Apóstolos também é algo difícil pelo fato de que um livro “histórico” está sujeito à crítica histórica de forma muito distinta de uma epístola. No presente comentário a Atos dos Apóstolos o leitor sentirá falta da discussão com essa crítica. Contudo, ela foi conscientemente omitida por três importantes razões, que estão estreitamente interligadas. Uma imediata rejeição das objeções histórico-críticas à exposição de Lucas é gratuita demais, e não ajuda quem estiver gravemente atormentado pelo problema da teologia crítica. Uma discussão mais aprofundada, porém, requer conhecimentos lingüísticos, históricos e metodológicos a que um grande contingente dos usuários desta série de comentários não tem acesso. Ao mesmo tempo, um confronto desse tipo faria este volume inchar demais, desviando o leitor do único ponto principal: ouvir e ver, mediante oração, o que Deus tem a lhe dizer e mostrar em Atos dos Apóstolos, da autoria de Lucas. Essa tarefa positiva é tão grande que absorve todas as forças do comentarista, assim como as de seus leitores. Quando, porém, essa tarefa obtém êxito, a discussão expressa nas objeções críticas não se reveste mais de tanta importância. Quando o primeiro dirigível do conde Zeppelin de fato cortou os ares do lago de Constança, os inúmeros escritos críticos contra sua obra deixaram de ter grande importância. Quando aquilo que Jesus continuou a fazer e ensinar depois de sua ascensão como o Senhor exaltado estiver lúcida e limpidamente diante de nossos olhos, quando isso preencher nosso pensamento, esculpir nosso querer e moldar nosso serviço, todas as alegações críticas contra Atos dos Apóstolos passam para segundo plano por si mesmas.
Ao propor minha tradução, permaneci firme no propósito de transmitir ao leitor a idéia mais fiel possível do texto grego, inclusive pela colocação pouco usual das palavras e dos particípios. Alegro-me pelo fato de que também um exegeta especializado no Novo Testamento como E. Haenchen se arrisque nessa direção. Quem busca uma tradução fluente numa linguagem de boa qualidade poderá encontrá-la em diversas edições da Bíblia.
Uma questão singular é a transliteração dos muitos nomes geográficos de Atos dos Apóstolos. O leitor tem direito de saber como soam esses nomes no texto do próprio Lucas. Tentamos corresponder a isso de forma ampla. Mas não é possível ser completamente conseqüente. Até mesmo o nome “Antioquia” é um aportuguesamento. O nome exato deveria ser “Antioquéia”. A forma original dos nomes se torna especialmente estranha para nós por estarmos acostumados a tempos aos nomes modificados: dificilmente um leitor atual reconheceria “Kypros” como sendo a ilha de “Chipre”, ao passo que não terá problemas em identificar a conhecida “Tessalônica” em “Tessalonike”. Os limites entre manter ou não a forma original grega dos nomes são flutuantes. Hoje em dia, isso também não será diferente ao relatarmos fatos e narrativas de continentes longínquos.
O presente volume da série de comentários também não teria sido concluído sem o empenho múltiplo de minha colaboradora D. Vogt. Sou grato a G. Dulon, professor de teologia em Wiedenest, pelos numerosos estímulos nesta obra. Houve, igualmente, muitas pessoas que acompanharam o trabalho no presente volume durante longo tempo, através de sua intercessão. Sou grato ao Senhor por tudo isso.
Schwerin, primavera de 1965

QUESTÕES NTRODUTÓRIAS
INTRODUÇÃO
1 – Características e objetivo de Atos dos Apóstolos
a – Escrever, em sua segunda obra, um primeiro ensaio da “história da igreja” foi um empreendimento audacioso do autor do terceiro evangelho! Esse simples fato já revela o impulso e a atuação do Espírito de Deus no coração desse homem. De uma maneira completamente nova, ele compreendeu a palavra e a incumbência do Senhor Jesus no dia da Ascensão, motivo pelo qual nesse momento também foi capaz de expor a importância desse dia com clareza maior do que no final de seu evangelho. Ele obteve a certeza de que o retorno de Jesus não é o alvo imediato subseqüente, no qual se concentram todos os pensamentos, mas o retorno é precedido por um acontecimento de máxima importância, ao qual a igreja de Jesus agora deve dedicar todas as suas forças. Esse acontecimento é a expansão do evangelho de Jerusalém até os confins da terra, traçando círculos cada vez mais amplos. Sem dúvida, o próprio Jesus havia falado a esse respeito justamente em seu discurso sobre os tempos finais: “E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim” (Mt 24.14). Para nós, isso se tornou algo “óbvio” ao longo dos 1900 anos de história de missões e da igreja. Para Lucas, porém, era uma nova descoberta compreender que Jesus continua a agir e ensinar em seus mensageiros e suas testemunhas, através do Espírito Santo, e que essa ação do Senhor também faz parte do “evangelho”. Cumpre, por isso, notá-lo e descrevê-lo como continuação do primeiro livro. Que compreensão de fé acerca da “história da igreja” Lucas nos possibilitou com esse trabalho! Cabe-nos agradecer muitíssimo a ele e ao Espírito Santo, que o iluminou desse modo.
b – Com essas palavras já articulamos o objetivo do livro. É verdade que o título alemão “História dos Apóstolos” se evidencia como dado a equívocos. Nos primeiros capítulos, “os apóstolos” sem dúvida aparecem como um grupo coeso, que também agia em conjunto. Porém na primeira metade do livro é somente de Pedro que obtemos um relato concreto. Por outro lado, o interesse do autor também não se volta para “Pedro” como tal. Nada é dito sobre a continuação de sua atividade depois do concílio dos apóstolos, nem mesmo acerca de sua morte. João é mencionado apenas secundariamente no início. E também Paulo, cujas viagens missionárias e cujo processo preenchem a segunda parte do livro, não tem qualquer importância biográfica. Lucas omite muitas experiências essenciais que o próprio Paulo menciona em suas cartas, e não dedica uma palavra sequer ao desfecho do julgamento e ao martírio do apóstolo. Na realidade, seu objetivo não é escrever uma “história dos apóstolos”. Importância tem unicamente o curso do evangelho pelo mundo. Diante dele, todos os instrumentos humanos deixam de ser importantes. Isso é genuinamente bíblico! De maneira idêntica, o AT também carece de qualquer interesse “biográfico” e de qualquer “culto a heróis”. Apenas Deus e sua magnífica causa estão em jogo. É isso que precisamos reaprender, mesmo a partir da forma como se desenvolve a história descrita de Atos dos Apóstolos.
c – Essa é a razão por que o livro tampouco constitui uma “obra historiográfica” no sentido atual. De acordo com nossos padrões modernos, ele é muito imperfeito e incompleto. Ocorre, porém, que nem o próprio livro pretende corresponder a esses padrões. Lucas é capaz de dedicar uma única frase a etapas inteiras da evolução histórica e a trabalhos importantes e, por outro lado, ilustrar detalhadamente um acontecimento isolado. Lucas dispensa dois versículos ao profícuo trabalho de Paulo em Éfeso durante dois anos, mas dedica sete versículos ao episódio com os filhos de Ceva [At 19.14], até dezoito à agitação dos ourives! Não ouvimos palavra alguma em Lucas a respeito da grande tribulação na província da Ásia, que foi tão marcante para o próprio Paulo (2Co 1.8-11). Nada é dito acerca da longa e ardente discussão com a igreja em Corinto, que se reflete nas cartas à mesma. Lucas tem um estilo completamente peculiar de relatar e selecionar episódios dentre a enorme abundância dos materiais. Em lugar de fornecer uma descrição geral e contínua da história, prefere fazer-nos vivenciar o curso dos acontecimentos com base em episódios isolados, ilustrados com grande plasticidade.
d – Conseqüentemente, o título grego da obra – “práxeis apostólon” = Ações dos Apóstolos” – parece mais apropriado. Havia, na Antigüidade, toda uma literatura de “práxeis”, obras que relatam de maneira solta e plástica uma série de acontecimentos da vida de homens famosos. Não estaremos argumentando contra a direção do Espírito se considerarmos que Lucas, ao escolher a modalidade de exposição de sua obra, tivesse aderido a essa forma literária de seu tempo, assim como também o apóstolo Paulo, cheio do Espírito, seguiu o estilo de carta de sua época. Contudo, não é provável que o próprio Lucas tenha escolhido pessoalmente o título “práxeis apostólon”. Na única vez em que a palavra “práxeis” ocorre em Atos dos Apóstolos, ela tem a conotação nefasta de “práticas de magia” (At 19.18). Sobretudo, porém, não obstante várias semelhanças na forma, a obra de Lucas está tão distante dos antigos escritos de “práxeis” em termos de conteúdo e essência, que nem mesmo o atual título grego consegue enquadrá-la nessa categoria literária.
e – A partir da constatação de que Atos dos Apóstolos não é uma “obra historiográfica” no sentido moderno, houve quem salientasse que Lucas nem sequer tinha a intenção de descrever objetivamente a história, mas sim escrever para a “edificação” de seus leitores. Em visto disso, deveríamos ler Atos dos Apóstolos como “livro edificante”, não nos deixando atormentar pelo “historismo”. Dessa maneira, porém, introduzimos idéias modernas e deturpadas de forma perigosa na obra de Lucas. No âmbito do NT, a “edificação” ainda é uma ação muito objetiva, voltada à “construção” da igreja. Está alicerçada sobre a ação real de Deus. “Edificação” como sentimentalismo gerado através de “histórias” comoventes, cuja veracidade histórica não possui grande importância, é algo completamente alheio ao ser humano dos tempos bíblicos. Se o anjo não retirou Pedro de fato da prisão de segurança reforçada,
então esse capítulo de Atos dos Apóstolos tampouco é “edificante”, não para Lucas, nem para seus leitores daquele tempo, nem para nós.
f – Além da “edificação”, o alvo de Atos dos Apóstolos foi considerado como sendo a “defesa” do novel cristianismo perante o Estado romano. Essa seria a razão pela qual Lucas apresenta Paulo repetidamente declarando e comprovando enfaticamente ser pertencente a Israel, para que fique claro para o Estado romano que o cristianismo pertence ao judaísmo e é, por conseqüência, uma “religio licita”, uma religião tolerada pelo Estado. E a postura benevolente e respeitosa dos funcionários e oficiais romanos, que afirmam a inocência de Paulo, seria um espelho oferecido por Atos dos Apóstolos aos funcionários públicos do início do segundo século. No entanto, será que Lucas teria superestimado tão fantasticamente a influência de seu livro? Afinal sua obra não foi impressa com grande tiragem, de sorte que caísse nas mãos de todos os funcionários do Império Romano! E porventura ele não estaria obstruindo exatamente esse alvo, ao também descrever de forma tão marcante como os grupos dirigentes judeus rejeitavam ferrenhamente a Paulo e ao cristianismo?
g – Não, na dedicatória do primeiro volume, o evangelho, o próprio autor define de maneira simples e clara o alvo do livro: “Para que tenhas plena certeza das verdades em que foste instruído” (Lc 1.4). Que argumento nos autorizaria a especular acerca desse propósito em relação à continuação da obra em Atos dos Apóstolos? Pelo fato de que entrementes Lucas compreendera que o “evangelho” não acabara com a despedida de Jesus, mas continuava seu próprio curso pelo mundo, ele também continuou escrevendo à mesma pessoa, com o mesmo objetivo. E por isso escreveu dessa forma: não uma história sobriamente “objetiva” do primeiro cristianismo, tampouco uma apresentação dos apóstolos com sua vida e atuação completas, mas um testemunho do admirável caminho que o evangelho percorreu, saindo de Jerusalém e indo para Samaria, Antioquia, Ásia Menor, Macedônia e Grécia até a capital do mundo, Roma. A estrutura do livro corresponde a esse percurso.
2 – A estrutura de Atos dos Apóstolos
Os apóstolos são incumbidos da grande tarefa: “Sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra” (At 1.8). Atos dos Apóstolos relata a respeito da concretização dessa incumbência. Ela não acontece através de um procedimento planejado pelos apóstolos, mas integralmente através de um acontecimento, que é determinado e dirigido pelo próprio Jesus. Esse acontecimento se desenrola em três fases, não subseqüentes uma à outra, mas entrelaçadas.
A primeira seção (cap. 1-7) nos apresenta os apóstolos como “testemunhas de Jesus em Jerusalém”, indo até o primeiro mártir, Estêvão, cujo sangue correu em Jerusalém. Estêvão, porém, faz parte dos “helenistas”, cuja existência já dirige o olhar para longe, além de Jerusalém. A perseguição desencadeada através de sua morte conduz, na segunda fase (cap. 8-12), ao cumprimento da incumbência de ser “testemunhas de Jesus na Judéia e Samaria”. Tudo se solta e se amplia, o evangelho pressiona para fora. Não apenas a Samaria é atingida, mas também o homem da longínqua Etiópia e o primeiro grupo de gentios, Cornélio e sua casa, em Cesaréia. O evangelho chega até Antioquia via Chipre, e ali estabelece um novo centro. Os portadores de todo esse movimento não são os apóstolos no sentido mais restrito. Apesar disso, porém, Pedro continua sendo a pessoa decisiva, e os apóstolos permanecem ocupando posições-chave em Samaria e Antioquia. Desse modo, o primeiro bloco volta a encaixar no segundo, e a conversão de Saulo de Tarso (cap 9), no meio da segunda seção, já prepara a terceira (cap. 13-28). Esse último bloco descortina, pois, como o próprio Jesus realiza sua incumbência de serem “minhas testemunhas até os confins da terra”, singularmente por meio da grandiosa obra de Paulo. Por sua vez, o cap. 15 (concílio dos apóstolos) e os cap. 21-23 (Paulo em Jerusalém) concatenam essa terceira parte com a primeira seção. “Jerusalém” continua sendo decisiva também no momento em que “Roma” surge no horizonte.
A estrutura do livro também pode ser definida de forma que a considerar uma divisão em duas grandes partes: primeira seção principal – capítulos 1-12 (Jerusalém e Palestina), personagem principal: Pedro; segunda seção principal –cap. 13-28 (Antioquia até Roma), personagem principal: Paulo. Também nesse caso as duas partes são interligadas por meio dos capítulos 9.1-23.
3 - O autor de Atos dos Apóstolos
Enquanto nas cartas do NT o remetente se dá a conhecer expressamente por meio de seu nome e também de sua posição, o autor de Atos dos Apóstolos e do evangelho não diz nada a respeito de si mesmo, nem mesmo em sua dedicatória pessoal a Teófilo. A tradição eclesiástica, porém, desde cedo não tem dúvidas de que o autor é Lucas, antioqueno, médico e companheiro de viagem de Paulo. Essa tradição é ainda mais digna de nota pelo fato de que as breves menções a Lucas em Cl 4.14; Fm 24; 2Tm 4.11 não contêm nada que pudesse ter levado à atribuição posterior do terceiro evangelho e de Atos dos Apóstolos justamente a ele. Deve haver uma informação independente, em que podemos confiar. Vários detalhes na própria obra podem servir como confirmação dessa informação. É verdade que a tentativa de encontrar em Atos dos Apóstolos o linguajar singular do médico não resistiu a um exame minucioso. As expressões médicas ocasionalmente usadas por Lucas também podem ser encontradas em obras literárias antigas, não escritas por médicos. De qualquer forma, o autor de Atos dos Apóstolos é um helenista e uma pessoa culta, capaz de
escrever um grego versátil com finezas gramaticais. Ele delineia um quadro tão concreto de Antioquia e da vida eclesial daquele local, com tantos detalhes pessoais, que podemos muito bem considerá-lo um antioqueno. Ele fala com carinho especial de gentios “tementes a Deus”. Talvez ele próprio tenha sido uma dessas pessoas. Nesse caso ele já estava familiarizado com o AT na tradução grega antes de sua conversão ao cristianismo e havia adquirido determinado conhecimento das questões judaicas. Se as passagens em At formuladas na primeira pessoa do plural forem oriundas de seu diário pessoal, ele deve ter se tornado colaborador de Paulo em Trôade. Presenciou a evangelização em Filipos e foi deixado ali para conduzir a igreja quando Paulo e Silas saíram da cidade. Ao viajar para Jerusalém, Paulo o levou novamente consigo a partir de Filipos. Ele presenciou os acontecimentos em Jerusalém e na Cesaréia apenas à distância, ou também teve de desempenhar outras tarefas. Contudo volta a participar da viagem para Roma, e está em Roma ao lado de Paulo, durante a prisão deste. Na hipótese de que 2Tm 4.11 se refira a uma segunda prisão de Paulo em Roma, Lucas também deve ter continuado a ser companheiro de trabalho de Paulo depois que este fora solto da primeira vez, uma comunhão que os unia firmemente até a morte de Paulo. Contudo, não sabemos quando Lucas se encontrou pela primeira vez com Paulo, se aceitou a fé cristã através do próprio Paulo, ou por que ingressou na equipe que acompanhava a Paulo justamente em Trôade. Aliás, há muitos aspectos importantes que não são informados pelas fontes de que dispomos.
4 – A época da redação
Atos dos Apóstolos encerra contemplando os dois anos que Paulo pôde viver em Roma morando em relativa liberdade numa casa que ele mesmo alugara. Esses anos correspondem aproximadamente aos anos 60,61 d.C. Portanto, At não poderia ter sido escrito e editado antes do ano 62. Acontece, porém, que, de acordo com At 1.1, o livro olha retrospectivamente para o evangelho, escrito anteriormente. Ao dedicar o evangelho a Teófilo, porém, Lucas diz que “muitos houve que empreenderam uma narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram” [Lc. 1.1]. Em vista disso, já havia “evangelhos” escritos em maior número quando Lucas começou a escrever de sua parte. Num tempo tão antigo (ano 62), porém, não é possível que esses evangelhos já tenham existido. Se Lucas escreveu a continuação do evangelho, Atos dos Apóstolos, sob o império de Vespasiano (69-79 d.C.), sua alvissareira palavra final estaria condizente com a condição “sem impedimento algum” em que o novel cristianismo se encontrava novamente após o pavor da primeira perseguição sob Nero.
5 – As fontes de Atos dos Apóstolos
No prefácio de seu evangelho Lucas diz sem constrangimento que o livro é resultado de um exaustivo trabalho de pesquisa. Ele escreve “depois de acurada investigação de tudo desde sua origem” (Lc 1.3). Essa frase é importante para a compreensão bíblica correta da “inspiração” da Sagrada Escritura. Lucas não declara ter sido diretamente iluminado por Deus sobre a vida do Senhor e ter escrito seu evangelho desse modo. Muito menos declara: “Foi inspirada em mim palavra por palavra”. Pelo contrário, considera essencial seu próprio trabalho de pesquisa e sua própria organização da exposição. Isso, no entanto, não significa que sua obra não fosse conduzida e iluminada pelo Espírito Santo! Não é certo imaginarmos a atuação do Espírito apenas de forma mecânica. A glória do Espírito de Deus está em não ter necessidade de deslocar o pensamento, a vontade e a ação do ser humano para obter o espaço necessário para a sua atuação, mas iluminar e moldar o pensar, o querer e o agir próprio do ser humano. Não é diferente o que ocorre com as cartas do NT. Também elas não são um ditado celestial, mas cartas humanas genuínas, escritas com esmero e reflexão a determinadas pessoas numa situação específica. Pode-se constatar nelas as características pessoais do autor, seja Paulo, ou João, ou Pedro, ou Tiago. Não obstante, no meio disso o Espírito Santo foi eficaz a tal ponto que agora essas mesmas cartas humanas, ligadas a seu tempo, constituem a palavra de Deus ativa e criadora, dirigida hoje às pessoas de todos os continentes. Tão misteriosa e viva é a inspiração da Sagrada Escritura, que temos diante de nós em sua realidade maravilhosa.
Da mesma forma, também Atos dos Apóstolos é Palavra de Deus inspirada, embora seja uma obra de Lucas cuidadosamente elaborada a partir de “fontes”. O preâmbulo do evangelho vale também para o segundo volume, ainda que esse tenha sido publicado como um livro próprio, independente. Sem suas “fontes”, Lucas nem poderia escrever Atos dos Apóstolos. Se ele era um cristão gentílico antioqueno, que somente em Trôade ingressou na equipe que viajava com Paulo, apenas os cap. 16 em diante poderiam basear-se em suas próprias recordações, sendo que dependeria de fontes para tudo o que é relatado nos cap. 1-15. A pesquisa científica se esforçou, pois, com afinco, para identificar as “fontes” e apreciá-las de acordo com seu valor histórico. Contudo, o amplo colorido dos resultados desse esforço demonstra que ele é em vão. Lucas elaborou de tal forma o que suas fontes lhe diziam, e exerceu tão pouco o papel de mero compilador de relatos alheios, que não é possível delimitar determinadas fontes e distingui-las na redação de Lucas. As “fontes” nem mesmo precisam ter sido escritas ou literárias. Se Lucas acompanhou Paulo na viagem para Jerusalém, permanecendo muitos dias em Cesaréia com Filipe (At 21.8), de quantas coisas poderia ter sido informado por este a respeito da igreja em Jerusalém, até a perseguição por Saulo! Por outro lado, não são descartadas anotações escritas que Lucas pode ter usado. Com toda a certeza havia “itinerários”, breves diários de viagem. Os famosos relatos em forma de “nós” de Atos dos Apóstolos devem ser oriundos de um desses “diários de viagem”, de autoria do próprio Lucas.
6 – A crítica histórica a Atos dos Apóstolos
A partir da evidente circunstância de que Atos dos Apóstolos é uma obra de história, elaborada e escrita por um homem mediante o uso de “fontes”, a pesquisa científica deriva o direito, sim o dever, de examinar criticamente a apresentação da história do primeiro cristianismo. Será historicamente correta a exposição de Lucas? Será que tudo de fato transcorreu da forma como Lucas relata? É “possível” que tenha sido assim? Ou será que os próprios relatos de Atos dos Apóstolos evidenciam incongruências, dificuldades, contradições das mais variadas formas, que nos deveriam deixar em dúvida? Acaso o verdadeiro acontecimento histórico já estava retocado e involuntariamente modificado ou ampliado nas próprias fontes? Nesse caso, será que Lucas alterou e elaborou mais uma vez a narrativa a partir de sua perspectiva e para os grandes fins que a seu ver eram importantes para a igreja?
Por tudo isso, dispomos de grande profusão e multiformidade colorida de comentários e estudos críticos sobre Atos dos Apóstolos. Como haveremos de nos posicionar diante disso?
a – Está fora de cogitação apresentar e tornar compreensível ao usuário desta série de comentários bíblicos o emaranhado de objeções, perguntas, julgamentos, tentativas de solução e hipóteses. É completamente impossível ajudá-lo a elaborar um posicionamento próprio em vista de tudo isso. Para isso o leitor necessitaria de um conhecimento sólido do idioma grego, da história contemporânea do NT e dos métodos de trabalho histórico. Quem o tiver, de qualquer modo recorrerá aos comentários teológicos que foram escritos para esse tipo de leitores. Na presente série cabe tornar o livro de Atos dos Apóstolos concreto e acessível, da maneira como Deus no-lo presenteou. Isso demanda todo o espaço disponível para o livro, bem como o tempo e as energias a serem investidas pelo leitor.
b – Na medida em que a exegese crítica alerta objetivamente para dificuldades nos relatos de Atos dos Apóstolos e levanta questionamentos a respeito delas, teremos de atentar para essas questões (sem discutir com os comentários críticos propriamente ditos) e nos debruçar sobre as dificuldades expostas. Isso faz parte da apropriação de um conhecimento exaustivo do próprio texto.
c – Nessa apropriação há de ficar claro o quanto o veredicto a respeito do que “pode” ter acontecido historicamente e do que é “impossível” que tenha acontecido dessa maneira é determinado pela medida e pela natureza de nossa própria experiência. Quem não vivenciou determinadas coisas com Deus rapidamente classificará como “lenda” ou “ilustração edificante” o que para outra pessoa é uma realidade bem conhecida. Com excessiva facilidade o homem erudito, sentado à sua escrivaninha, fica enleado numa visão racional do mundo e do ser humano, cujos parâmetros ele usa para dar seu veredicto crítico. Nesse contexto somos lembrados da poderosa palavra de Lutero, escrita num bilhete pouco antes de morrer: “Os poemas pastoris de Virgílio somente pode compreender quem viveu cinco anos entre os pastores e seus rebanhos, os discursos de Cicero somente quem esteve vinte e cinco anos à frente da direção de um Estado, e por isso somente poderá compreender a Bíblia quem durante cem anos pastoreou a igreja de Deus com apóstolos e profetas.”
d – A partir desse aspecto, é preciso que tenhamos clareza de que sempre e em qualquer circunstância nos aproximamos da Bíblia com um “preconceito”, um “pré-conceito”, que de antemão determina nossa leitura dela. É possível que tenhamos o “preconceito” de que a Bíblia em última análise é um livro como todos os outros livros, ainda que seu conteúdo trate de Deus. Então, sem receio a transformamos em “objeto” de nossa própria investigação e apreciação. Porém é igualmente possível que tenhamos experimentado a palavra bíblica de tal maneira como a espada afiada do juízo divino e como poder vivo do renascimento em nossa própria vida e na de muitas pessoas, que compreendemos os homens e as mulheres que depois de sua conversão só eram capazes de ler a Bíblia literalmente de joelhos. Nesse caso, toda a investigação e toda a indagação sobre “dificuldades” e “pontos incompreensíveis” também acontecerá com profunda reverência, e já não seremos capazes de precipitadamente sobrepor o nosso conhecimento ao texto. Nossa exposição de Atos dos Apóstolos – como na realidade toda esta série – parte desse “preconceito” oriundo da experiência no contato com a Bíblia. Levamos a sério o que acabamos de afirmar sobre a inspiração de Atos dos Apóstolos no trabalho pessoal de Lucas. Se Atos dos Apóstolos não for apenas uma obra de Lucas, mas ao mesmo tempo e em si uma obra do Espírito Santo, então a atitude apropriada do leitor e do comentarista é a de ouvir também esse livro do NT em oração.
e – Essa atitude é corroborada pelo fato de que geração após geração da igreja de Jesus obtiveram desse livro uma riqueza infinita de conhecimento, de orientação, de força e de consolo. Justamente em Atos dos Apóstolos a quantidade de interpretações “práticas”, que se nutrem desse livro e atingem diretamente a atualidade e a vida da igreja, bem como a cada cristão em particular, é singularmente grande até hoje. Afinal, será que isso seria possível se Atos dos Apóstolos fosse o testemunho tardio, cabalmente incorreto, de um cristão do segundo século, como o classifica a crítica?
7 – O texto de Atos dos Apóstolos
Todos os volumes da presente série se orientam segundo diretrizes comuns, que também alertam o leitor para os manuscritos mais importantes, nos quais o texto do NT nos foi transmitido. Ocorre que na maioria dos livros do NT as variantes nos diversos manuscritos são relativamente insignificantes, de sorte que praticamente não há necessidade de
envolver o leitor desta série com elas. Porém com Atos dos Apóstolos é diferente. O texto grego geralmente usado, da edição de “Nestle”, traz como base também nesse livro a forma textual “hesiquiana” ou “egípcia” (assinalado nas edições gregas do NT com “H”). Também nós o utilizamos em nossa tradução. Contudo, justamente para At existe um texto detalhado que evidencia variações marcantes, apresentado sobretudo pelo códice D, mas também pelo manuscrito E, proveniente da Sardenha, e pelas antigas traduções latinas e siríaca. É com esse texto que precisamos familiarizar o leitor em diversas passagens. Os pesquisadores avaliam o trabalho desse texto de maneiras distintas. Alguns opinam que se trata da versão mais original da obra de Lucas; outros vêem nele algo como uma “segunda edição” do livro. Seja como for, tentaremos examinar qual é a situação dessas variantes textuais. Obviamente essas diferenças de texto não alteram em nada no formato básico de Atos dos Apóstolos.
8 – Literatura acerca de Atos dos Apóstolos
De nada serve enumerar aqui uma vasta literatura que na prática certamente não será utilizada.
Quem tiver suficientes conhecimentos de grego e deseja obter uma idéia mais clara do trabalho “exegético crítico” em At, deverá recorrer ao comentário de E. Haenchen. Ali encontrará também uma boa visão panorâmica dos mais importantes comentários científicos e ensaios sobre Atos dos Apóstolos. O leitor apenas precisa se preparar para o fato de ter de ouvir a cada capítulo que é possível que tudo não aconteceu da forma como Lucas descreve. Lucas teria tecido suas coloridas narrativas a partir de tradições não-históricas ou até mesmo de anotações precárias – um brilhante feito literário, mas lamentavelmente de pouco valor histórico.
Na série “NTD”, até aqui Atos dos Apóstolos havia sido comentado por H. W. Beyer, mas agora foi editado um novo comentário, com tradução e explicações de G. Stählin. É uma obra tão minuciosa quanto viva, acompanhada de excelente material cartográfico. Verdade é que também Stählin se posiciona de forma inesperadamente crítica diante de vários textos de At.
Continua digno de leitura o comentário de A. Schlatter em “Erläuterungen zum NT”.
Em “Bibelhilfe für die Kirche”, U. Smidt apresenta Atos dos Apóstolos a seus leitores com notável brevidade, vivacidade e plasticidade. Quem deseja conhecer At como um todo, mediante condução gabaritada, recorra a esse livro.
Quanto às “Introduções” ao Novo Testamento, remetemos à de Paul Feine (revisado por J. Behm) e principalmente à de Wilhelm Michaelis. Nessa obra o leitor encontra uma abordagem exaustiva das questões de que tratamos também na presente “Introdução”.
Haenchen, E. Die Apostelgeschichte. Göttingen 1962, 13ª ed., 710 p., um mapa (= Kritisch-exegetischer Kommentar über das Neue Testament, vol. III).
Stählin, G. Die Apostelgeschichte. Göttingen 1962, 10ª ed. 320 p., 8 mapas (= Das Neue Testament Deutsch, tomo 5).
Schlatter, A. Die Apostelgeschichte. Stuttgart 1962 (42º milheiro), 320 p. (= Erläuterungen zum Neuen Testament, vol. IV).
Schmidt, Udo. Die Apostelgeschichte. Kassel 1960, 3ª ed. 194 p. (= Bibelhilfe für die Kirche, vol. 5).
Feine, Paul e Behm, Johannes. Einleitung in das Neue Testament. Heidelberg 1962. 12ª ed. 400 p.
Michaelis, Wilhelm. Einleitung in das Neue Testament. Berna 1961. 3ª ed. 402

Extraído da Coletânea: COMENTÁRIO ESPERANÇA - Autor: Werner de Boor
Editora Evangélica Esperança
http://cleberrenato.olhaki.net/

Comentários

  1. Acessar seu espaço me fez muito bem!
    Louvo a Deus pela sua vida!

    Deixo uma lembrancinha que fiz, espero que goste do acróstico:

    C ultivar uma vida de oração.
    R evigorar-se pela leitura diária da Palavra.
    E star sempre disposto a obedecer a Deus.
    S er uma testemunha fiel no viver e no falar.
    C onsagrar a Deus seu corpo, tempo e talentos.
    E sperar de Deus a orientação para a vida.
    R evestir-se do poder do Espírito Santo.

    Precisamos CRESCER, na Graça e no conhecimento do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
    Já te seguindo, e te esperando lá no meu espaço, fique a vontade para comentar e também seguir, será uma honra.

    Em Cristo,

    ***Lucy***

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